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Porque é que, na era digital, as relações offline continuam a ser o nosso maior alicerce emocional?

  • Foto do escritor: Cátia Castro
    Cátia Castro
  • 2 de dez.
  • 3 min de leitura
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Vivemos num tempo em que grande parte das nossas interações acontece através de ecrãs. Conversamos por mensagens, participamos em reuniões por videoconferência, conhecemos novas pessoas em plataformas digitais e, cada vez mais, procuramos apoio emocional em chatbots e ferramentas de inteligência artificial. No entanto, apesar do avanço tecnológico, um dado continua a sobressair de forma consistente na investigação científica: as relações presenciais continuam a ser um dos maiores contributos para o nosso bem-estar.


Embora as relações online possam ser fontes legítimas de apoio e pertença, a satisfação com os vínculos offline em investigação recente, mostrou estar mais fortemente associada à satisfação global com a vida.


Ou seja, a qualidade das relações presenciais continua a ser um pilar central na saúde mental.


O que explica esta vantagem das relações presenciais?


Várias teorias psicológicas e neurocientíficas têm defendido, há décadas, que os seres humanos são biologicamente orientados para a ligação social direta. Desde Maslow ao trabalho de Panksepp, a mensagem é clara: precisamos de relações satisfatórias para viver.


As interações cara a cara oferecem elementos difíceis de reproduzir online:


  • Expressões faciais subtis e linguagem corporal, fundamentais para a empatia.

  • Contacto físico seguro, que activa sistemas neurobiológicos associados ao bem-estar.

  • Ritmos de conversa mais naturais, com menor risco de mal-entendidos.

  • Presença partilhada, que reforça a sensação de proximidade e pertença.


Mesmo com câmaras e emojis, o ambiente digital tem limitações, o que não quer dizer que seja mau, é apenas diferente.


E as relações online? São menos importantes?


As relações online também contribuem de forma significativa para o bem-estar emocional, apenas com um impacto ligeiramente inferior ao das relações offline.


Para muitas pessoas, especialmente jovens, imigrantes, indivíduos com mobilidade reduzida ou comunidades marginalizadas, a internet pode oferecer:

  • acesso a grupos de apoio;

  • oportunidades de expressão pessoal;

  • contactos que não seriam possíveis no mundo físico.


Além disso, muitas relações começam online e evoluem para relações presenciais.

E o contrário também é verdade: contactos presenciais mantêm-se vivos através do digital.

Ou seja, não é “offline é bom, online é mau”.

Ambos são úteis, mas o offline continua a ser o nosso terreno emocional mais fértil.


O que isto significa para nós, no dia a dia?


Num mundo em aceleração digital, é fácil cair na ideia de que podemos substituir totalmente as relações presenciais por interações online. Mas o nosso corpo, o nosso cérebro e a nossa história evolutiva lembram-nos de que:


  • Precisamos de pessoas “ao vivo” para nos sentirmos verdadeiramente completos.

  • Precisamos de toque, de presença, de olhos nos olhos.

  • Precisamos da riqueza emocional que só o corpo e o espaço partilhado podem transmitir.


Isto não significa abandonar o digital, significa restaurar o equilíbrio.


Como cultivar esse equilíbrio? Algumas sugestões práticas


  • Reserve tempo para encontros presenciais, mesmo curtos.

  • Desligue o telemóvel em momentos de convivência, para aumentar a qualidade da interação.

  • Use o online como ponte, não como substituto, marcar encontros, combinar actividades, manter o contacto entre encontros presenciais.

  • Aproxime-se de comunidades locais (clubes, associações, voluntariado).

  • Crie rituais de relação offline: jantar com amigos, passeios, cafés, desportos, atividades culturais.


A tecnologia é uma ferramenta que, quando usada com intenção, pode aproximar-nos uns dos outros. No entanto, a ciência lembra-nos que as nossas necessidades emocionais mais profundas continuam enraizadas na relação presencial.


No meio de notificações, algoritmos e ecrãs, vale a pena recordar:

  • O que mais contribui para a nossa satisfação com a vida continua a ser aquilo que sempre nos sustentou enquanto espécie: a presença humana.


Se está a sentir solidão, desconexão ou dificuldades nas suas relações, procurar apoio psicológico pode ajudar a reconstruir laços e a desenvolver estratégias para integrar o digital de forma saudável e equilibrada.


Cátia Castro

Psicóloga clínica

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